sábado, 25 de fevereiro de 2012

Suplementação com L-carnitina apresenta efeito positivo em pacientes com fígado gorduroso não alcoólico.

A causa mais comum de doença hepática crônica nos países ocidentais é normalmente chamada de “fígado gorduroso” ou esteatose hepática não alcoólica (NASH, na sigla em inglês). Na população geral, 10 a 24% das pessoas apresentam tal patologia.
Ela está associada a distúrbios no metabolismo energético como obesidade, resistência à insulina e dislipidemia. Suas causas são incertas, mas fatores nutricionais, metabólicos, genéticos, virais e outros podem causar ou contribuir para o desenvolvimento dessa enfermidade. Acredita-se que o desenvolvimento de depósitos gordurosos em tecido não adiposo resulta em disfunção celular e morte. Parte da patogênese da NASH envolve a formação de ácidos graxos no fígado, os quais agem como fonte de estresse oxidativo e elevam os níveis hepáticos das espécies reativas de oxigênio danosas. Em qualquer dos casos, a NASH está associada com um perfil sanguíneo lipídico mais aterogênico, que inclui hipertrigliceridemia, uma maior concentração plásmica de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) e colesterol LDL com partículas lipídicas de tamanho maior, bem como níveis mais baixos de colesterol de lipoproteínas de alta densidade (HDL), a chamada parte “boa” do colesterol sanguíneo.
Acredita-se por hipótese que alimentos e suplementos fortificados com L-carnitina podem melhorar as efeitos da NASH porque ela reduz os níveis lipídicos, limita o estresse oxidativo e pode modular as respostas inflamatórias. Adicionalmente, a L-carnitina desempenha uma série de funções intracelulares e metabólicas essenciais que podem ter algum papel na redução da gravidade da NASH.
Recente estudo clínico randomizado placebo-controlado conduzido na Itália avaliou se o tratamento com L-carnitina poderia afetar padrões histológicas evidentes em biópsia hepática e, se a suplementação com L-carnitina poderia modificar favoravelmente os marcadores sanguíneos biológicos de gordura e inflamação após 24 semanas de tratamento de pacientes com NASH comprovada.
Neste estudo, 74 pacientes foram divididos aleatoriamente para receber por 24 semanas um suplemente de L-carnitina em cápsulas ou placebo. Todos os pacientes foram submetidos a biópsia de fígado como diagnóstico inicial da NASH, a qual foi verificada presença de sinais histopatológicos aceitos para fígado gorduroso. Solicitou-se que os pacientes, além de receberem L-carnitina ou placebo, seguissem a alimentação prescrita pelo National Cholesterol Education Program Adult Treatment Panel III.  Aqueles que ingeriram L-carnitina receberam 2 g do suplemento ao dia divididos em doses iguais após café da manhã e jantar por 24 semanas. O outro grupo recebeu placebo de maneira semelhante.
Esse estudo clínico dos efeitos da suplementação da L-carnitina sobre a NASH constatou que, no final da avaliação de 24 semanas, os sujeitos que receberam L-carnitina apresentaram diferenças benéficas significativas nas enzimas hepáticas em comparação ao grupo placebo. Adicionalmente, os pesquisadores italianos constataram que os pacientes tratados com L-carnitina mostraram diferenças significativas nos níveis sanguíneos do colesterol total e do colesterol LDL quando comparados ao grupo placebo. Além disso, quando se examinou o perfil glicometabólico, verificou-se que no final do estudo os pacientes que receberam L-carnitina demonstraram diminuição significativa no nível plásmico de glicose, assim como na resistência à insulina. Também notou-se que o grupo que recebeu L-carnitina mostrou diminuição significativa nos marcadores biológicos sanguíneos da inflamação como a proteína C-reativa e o TNF-alpha (fator de necrose tumoral alfa).  Por fim, a repetição da biópsia hepática nos pacientes tratados com L-carnitina indicou que também houve melhoria nos sinais histopatológicos do fígado gorduroso, além da classificação da atividade da NASH ter melhorado depois da suplementação com L-carnitina.
Tal estudo é importante porque indica que a suplementação com L-carnitina pode ter efeito positivo no tratamento de pessoas com NASH. Relevantemente, o estudo demonstrou que a L-carnitina é efetiva na redução do colesterol total, do colesterol LDL,  triglicérides e resistência à insulina, fatores importantes de risco para doenças cardiovasculares.
 
Fonte: M Malaquarnera et al. American Journal Gastroenterology 2010; 105:1338-1345.