A descoberta da miostatina, uma proteína que limita o
desenvolvimento
do músculo esquelético, e de grande importância para a
minimização da perda de massa muscular magra em
indivíduos que
possuam patologias em que a distrofia a e a atrofia a
muscular sejam
muito grandes. Estudos tentam descobrir como inibir essa
proteína e
os possíveis efeitos colaterais causados pela mesma. Esta
revisão tem
como objetivo analisar alguns dos estudos realizados e
explanar sobre
os pontos mais importantes a serem estudados sobre a
miostatina.
Introdução
Apos sua descoberta inicial em 1997 por Lee e McPherron
[1], a miostatina tem levado vários pesquisadores a
realizarem
trabalhos para descobrir seus mecanismos de funcionamento
e sua possível inibição para uso contra patologias em que
a
perda de massa muscular seja avassaladora. Ha alguns
anos, foi
observado o primeiro ser humano com uma mutação genética
em seus níveis de miostatina, crescendo assim uma criança
extremamente forte e com grande volume muscular [2].
Estudos com animais vem sendo realizados com freqüência,
porem, falta saber se a inibição da miostatina em seres
humanos não causa nenhum efeito colateral considerado
deletério.
Mecanismo de
funcionamento
A miostatina e uma proteína pertencente a família das
supercitocinas dos TGF-. Seu papel alem de regular a
proliferação de mioblastos durante o período embrionário
e
a síntese de proteína no músculo esquelético apos o período
embrionário, e o de regular negativamente a massa
muscular
através de sua interação com o receptor ActIIb por sua junção
ativada com um propeptideo [3-6]. Tem uma maior expressão
em músculo esquelético adulto e em desenvolvimento [7].
A miostatina, como outras proteínas da família TGF-, e
produzida e secretada por uma proteína precursora através
do
processo proteolítico. A maioria da miostatina circulante
em
soro e associada ao seu propeptideo formando um pequeno
latente complexo [8]. Ela regula a massa muscular, agindo
diretamente nas células musculares, alem de exercer
efeitos
severos sobre a inibição da diferenciação de mioblastos
dentro
dos miotubos e a regulação da sobrevivência das células
[9].
Existem varias outras proteínas vinculadas a miostatina,
entre elas a folistatina, alem de um fator de diferenciação
do
crescimento associado a proteínas séricas (GASP-1) [10].
A via de miostatina, segundo Tobin e Celeste [11], regula
a massa muscular em inúmeros animais, desde peixes ate
seres
humanos. Pequenas expressões de miostatina foram
encontradas
nas células de Purkinje, nas glândulas mamarias, nos
cardiomiocitos e no tecido adiposo [9].
Segundo Wolfman et
al. [12], a miostatina circula pelo
sangue juntamente de outras proteínas incluindo seu
propeptideo
que mantém o terminal-C dimero em uma latente
de estado inativo. Esta latente forma de miostatina pode
ser
ativada in
vitro através de tratamento com acido,
porem, as
maneiras de se ativar a miostatina de maneira in vivo são
desconhecidas.
In vitro,
a miostatina se torna inútil ao seu propeptideo
apos tratamento proteolítico, produzindo um complexo
biologicamente
inativo que e impedido de se ligar as células
responsivas [10].
Para produzir um sinal in
vivo, e necessário ativar a pequena
latente complexa de miostatina através da remoção da
fração de propeptideo. No caso dos TGF-, em que as formas
são pequenas análogas latentes complexas, a ativação pode
ocorrer através de métodos fisioquímicos e proteolíticos
[8].
De acordo com Bogdanovich et al. [13],
o aumento da
massa muscular devido a mutações na miostatina foram
reportadas
em bovinos, ratos e seres humanos. Segundo Schuelke
[2], o único caso de ser humano com mutação na miostatina
foi reportado em 2004.
Estudos com animais
Em estudos realizados por Zhu et al. [14]
com ratos,
o grupo em que a miostatina foi bloqueada por completo
mostrou aumento no volume das fibras musculares. Não foi
observado aumento significativo no numero de fibras
musculares,
sugerindo que o efeito hipertrófico da miostatina e
independente de seu efeito hiperplásico. Portanto, a função
da miostatina esta envolvida mais com a hipertrofia do
que
com a hiperplasia.
Outro estudo com ratos realizado por Bogdanovich et al.
[15] mostra que apos três meses de injeções de anticorpos
bloqueadores de miostatina, os ratos incrementaram a
massa
muscular, o peso corporal, o tamanho dos músculos e a
forca
muscular absoluta alem de uma diminuição significativa na
degeneração muscular e as concentrações de creatina
kinase.
Apos o bloqueio da ação da miostatina em roedores, pode
ser observado um grande incremento na massa muscular
através da desinibição das células musculares
progenitoras não
havendo quaisquer efeitos colaterais deletérios [16].
Em estudo realizado por Lin et al. [17]
também com ratos,
apos o bloqueio da ação da miostatina, foi observado uma
diminuição no tecido adiposo e aumento muscular significativamente
grande, sendo que, este aumento muscular esta ligado
a redução na formação de gordura e, conseqüentemente, uma
queda na secreção de leptina.
Estudo conduzido por Tay et al. [18]
com bovinos, em
que a miostatina teve perda de sua função, demonstrou que
os
bovinos apresentaram um quadro de hiperplasia do músculo
esquelético mais conhecido como “double muscling”.
Girgenrath et
al. [19] fizeram estudos com
roedores, anulando
a ação da miostatina, sendo que os dados constatados
foram de que a quantidade de fibras do tipo IIx de contração
rápida, podendo ser chamada também de fibra branca, era
maior do que as fibras do tipo I de contração lenta.
Essas
diferenças na distribuição de fibras musculares foram
acompanhadas
pelas diferenças na expressão da miosina de cadeia
pesada na sua isoforma.
Durante estudo realizado por Taylor et al. [20]
foi observado
que devido a massa muscular representar o balanço entre
a replicação de células musculares, a síntese protéica, a
quebra
de proteína muscular e a morte das células foi
considerado a
possibilidade de a miostatina inibir o crescimento
muscular
afetando um ou mais desses processos.
A relação com
patologias
De acordo com Ma et
al. [21], o incremento na concentração
de miostatina esta associada na perda de massa muscular
em homens com o vírus da AIDS. O aumento da miostatina
foi reportado também em animais experimentais que foram
expostos a um vôo espacial. Wehling et al. [4]
também observaram
uma grande perda de massa muscular em homens
HIV positivos ligados a miostatina.
O aumento na expressão de miostatina foi reportado em
modelos severos de atrofia muscular como imobilizações,
microgravidade e queimaduras em que os glicocorticóides
desempenham uma função importante [22].
A sua inibição ocorre em uma variedade de abordagens
terapêuticas que podem incrementar a massa muscular em
vários tipos de animais que possuem patologias humanas,
incluindo distrofia muscular [11].
Mutações com seres
humanos
Em 2004, uma mulher saudável, ex-atleta, deu a luz uma
criança apos uma gravidez normal. A criança tinha uma
aparência extremamente forte, especialmente em suas coxas
e nas partes superiores dos braços. Foram realizados vários
exames para analise de tal acontecimento e, apos as
analises,
foi constatada uma inibição na miostatina, sugerindo
assim,
fatores iguais, tanto para ratos, bovinos e seres humanos
[9-2].
A mutação com o ser humano mostrou grande importância
devido ao sucesso na anulação dos efeitos da miostatina,
sugerindo efeitos benéficos em quadros de patologia em
seres
humanos sem efeitos colaterais deletérios, porem, ainda não
se sabe, se a função da miostatina esta apenas na limitação
do crescimento do músculo esquelético, ou se também esta
envolvida com o músculo cardíaco, os adipocitos e o cérebro.
Portanto, as intervenções terapêuticas sobre as funções
da
miostatina podem acarretar efeitos colaterais, nestes, ou
em
outros aspectos [1,6].
A manipulação da miostatina pode ser benéfica para aplicações
na agricultura, nas doenças musculares como atrofia
ou distrofia muscular entre outras, porem, outro fator
preocupante
e o fato de ser utilizada como droga para aumento do
desempenho esportivo, já que existe um grande numero de
modalidades esportivas em que o volume muscular e um
fator
crucial, criando, assim, uma nova classe de doping
[3,6,23].
A inibição da
miostatina
A inibição da atividade da miostatina e um promissor
método terapêutico para restaurar a massa muscular e a força.
Potentes inibidores de miostatina incluindo a
folistatina, a
miostatina propeptideo, os anticorpos de miostatina,
compostos
químicos e receptores solúveis podem ser benéficos
para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento
de doenças musculares [24, 25].
Conclusão
A miostatina mostrou ter grande importância na limitação
do crescimento muscular, porem, suas funções em
outros aspectos corporais como o coração, ainda esta
muito
obscura e necessita ser mais estudada. Ainda faltam
muitas
respostas em relação ao ser humano quanto ao bloqueio e
ao
mecanismo de funcionamento da miostatina, deve-se fazer
uma analise profunda para saber ate onde e seguro bloqueá-la
e por que fazê-lo.
Outro fator preocupante e o uso de substancias
bloqueadoras
de miostatina como droga para melhora no desempenho
e na estética de indivíduos cujo objetivo não seja o de
auxiliar
no combate de patologias. Portanto, e de extrema importância
a realização de mais estudos seguros e confiáveis para
que seja
feito o uso em seres humanos.
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